Felix Guattari já inicia seu texto "As três Ecologias" postulando um futuro dramático: "os modos de vida humanos individuais e coletivos evoluem no sentido de uma profunda deteriorização". Tal afirmativa baseia-se no diagnóstico do presente momento, onde, apesar das inúmeras conquistas tecno-científicas, a maneira de conduzir a vida sobre o planeta Terra vem construindo uma forma não sustentável de sobrevivência.
Falo aqui em outra sustentabilidade, ampliando o sentido usado no trato das questões ambientais para reconduzir seu sentido: sustentabilidade enquanto modo de vida que se renove, que se constitua enquanto possibilidade de criação, de trans-formação.
As ecologias de que fala Guattari são divididas em três registros: o do meio ambiente, o das relações sociais e o da subjetividade humana. Não é preciso ir muito longe para verificar que nestas três questões o homem contemporâneo precisa pôr-se em analise.
No filme "Ilha das Flores", de Jorge Furtado, a narrativa consegue exemplificar a forma maquínica como vivemos ainda hoje: a serialização dos acontecimentos, a impessoalidade, a forma trágica como o homem vem se constituindo enquanto "ser de valor". Valores esse que se remetem somente ao lucro, ao beneficio próprio e imediatista.
Esse mesmo tipo de pensamento egocêntrico é bastante claro em " A historia das Coisas". Não há uma preocupação com as conseqüências do que é fabricado, do lixo que é produzido, da forma como os trabalhadores (principalmente do Terceiro Mundo) são tratados. O objetivo único é a continuação e crescimento do sistema capitalista. O preço que é pago para manter esse sistema, entretanto, pode e deve ser questionado.
Mas de que maneira mudar esse fluxo continuo de depreciação do ser humano, das relações com o outro e com a natureza? Guattari sugere a criatividade como linha de fuga.
A criatividade deve ser a linha mestra para produzir novas formas de relação. Um novo olhar, dotado de um interesse ético-estético (portanto, também político) deve surgir. Desvencilhar o homem contemporâneo do paradigma cientificista que nos trouxe até aqui. As conquistas tecnológicas foram úteis. Para quem? Mesmo com toda a tecnologia existente, homens ainda morrem de fome, trabalhadores desmaiam pelas fabricas insalubres, mulheres são ainda vistas como seres diminutos, o clima continua aumentando sua temperatura... Quem se beneficia de todo este sistema?
A arte serve como molde, não a ser reproduzido, mas como inspiração. O ato criativo, que já gerou inúmeras conquistas, ainda pode transformar o cenário mundial.
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